quarta-feira, setembro 01, 2004

Olga - O Filme

OLGA BENÁRIO E LUÍS CARLOS PRESTES – ROMANCE E LUTA

DOUGLAS GREGORIO::
Setembro de 2004.

“Bem unidos, façamos
Desta luta, a final!
Numa terra sem amos – A Internacional!”

Não me lembro exatamente qual ano, só me recordo que era um dos últimos da década de 80. O local, a Praça da Sé, em São Paulo. Uma esolarada tarde do dia primeiro de maio, feriado.

No palanque, representantes de várias entidades discursando em comemoração à data dos trabalhadores.

De repente, um côro consonante de várias vozes como em em palavras de ordem: HOW! HOW! HOW! – não era o Papai Noel. O tom dos gritos eram muito mais agressivos que as gargalhadas do velhinho natalino. Eram gritos de guerra.

Eu olho para trás e vejo uma grande bandeira azul escuro, tendo em seu centro o círculo branco com o símbolo do sigma grego. Apesar de décadas de atraso, eram os neo-nazistas, então chamados de “Carecas” que faziam uma corrente e avançavam sobre a multidão.

Eu indignado com aquela bandeira integralista, gesticulava para os organizadores no palco exigindo providências. O que aqueles nazi-fascistas do Terceiro Mundo faziam ali, em nosso meio?!

A porradaria comeu solta. No final, a vitória: conseguimos expulsar as dezenas de Skin Heads da praça, e ainda por cima conseguimos tomar-lhes aquela bandeira horrível e atear fogo no símbolo de toda aquela palhaçada violenta.

Logo em seguida, eis que surge, ele... o velhinho... agora sim o velhinho, o “Cavaleiro da Esperança” – Luís Carlos Prestes em pessoa.

Na época eu era um adolescente secundarista. Tinha vivenciado bem de perto a campanha das Diretas Já e o renascimento da esquerda no Brasil.

No colégio eu estudava a história do Brasil contemporâneo, e uma das coisas as quais me intrigavam era justamente a figura daquele velhinho.

Eu me perguntava – como este homem pôde apoiar o retorno de Getúlio Vargas para seu segundo mandato, o homem que o aprisionou e enviou sua esposa, Olga Benário, para os campos de concentração nazistas?!

Em seguida, eis que um amigo de faculdade, Carlos Fagiolo, candidato a deputado estadual sobe ao palanque para discursar.

“Galinhas Verdes! “ – falava o Carlão, referindo-se ao caricáto apelido dos membros do movimento integralista.

Aproveitei a oportunidade, acenei: Carlão!... conclusão: tive a oportunidade de dirigir a pergunta acima a quem melhor poderia respondê-la: o próprio Prestes.

“Foi uma questão de circunstâncias, da busca de conquistas e objetivos maiores. Eu não podia colocar questões pessoais na frente disso” – a resposta.

E assim lá ia eu, todo contente para casa, por ter trocado umas breves palavras com um dos monstros sagrados da história do Brasil.

Mas desde aquela época, desde aquela idade, eu tinha uma questão em mente: os comunistas estavam equivocados – sempre tive a convicção disso. E realmente, minhas convicções vieram a se confirmar não muito mais tarde daquele dia, com a queda do Muro de Berlin em 1989.

O crime do rico a lei o cobre,
o estado esmaga o oprimido.
Não há direito para o pobre,
Ao rico tudo é permitido!
À opressão não mais sujeitos,
somos iguais todos os seres,
não mais deveres sem direitos,
não mais direitos sem deveres!

Esta estrofe do hino da Internacional Socialista numa única linha explica o porque de eu achar os comunistas equivocados. Quem puder entender, entenda... aliás, os comunistas tentaram excluir do hino esta mesma estrofe, porque afinal de contas, não foram eles que o compuseram.
Ai, ai, ai... será que alguém se recorda do quanto este hino rendeu críticas ao Lula em 1989?!

E assim me aproximei o máximo que pude de Olga.

OLGA
Direção de Jayme Monjardim, baseado no livro de Fernando de Morais.
Com Camila Morgado como Olga, e Caco Ciocler como Prestes.
Floriano Peixoto como Filinto Müller e Fernanda Montenegro como Leocádia Prestes.

Apesar das criticas e recríticas, o filme é excelente. Nem se sente passar as duas horas e vinte minutos de pura história e exemplos de determinação e disciplina.
Monjardim não poderia ter escolhido outra atriz para representar Olga senão Camila Morgado, a qual até na aparência física fica bem próxima de Olga.

Resumo:

Olga foi enviada ao Brasil pelo comitê central do partido comunista com a missão de proteger Prestes que se encontrava exilado em seu regresso. Prestes foi o maior representante do comunismo em terras brasileiras.

Passando-se por um casal de ricos portugueses em lua de mel, com escalas em alguns países antes de chegar ao Brasil, fato é que esta a lua de mel acabou virando real. Eles se apaixonaram.
Depois de uma série de intrigas, perseguições e traições, finalmente a polícia de Getúlio prende Prestes e Olga que são separados para nunca mais se verem, exceto por cartas.
Detalhe – Olga estava grávida quando foi presa.

Filinto Müller, chefe da polícia política durante a ditadura do Estado Novo, entrega Olga à Gestapo. Estrangeira, com facilidade foi deportada pelos fascistas que estavam no poder.

Filinto Müller fez carreira política chegando a senador. Com o fim do Estado Novo, foi convocado a dar explicações sobre os crimes que cometeu, entre eles a deportação de Olga, a qual jurava ele ter sido uma ordem de Getúlio.

Judia e comunista, foi encaminhada a uma prisão alemã – onde deu a luz a Anita Leocádia. Anita, em homeganem a Anita Garibaldi, e Leocádia, em homenagem à avó paterna, a qual através de intensa campanha internacional consegue uma verdadeira proeza: que os nazistas lhe concedessem a guarda da neta.

Hoje, Anita tem 67 anos e foi indenizada recentemente por dificuldades impostas pelo governo brasileiro por ter sido impedida de trabalhar e exilada durante a recente ditadura militar que veio com o golpe em 1964.
Separada da filha, anos mais tarde Olga soube que ela estava em companhia da avó, o que lhe aliviou a alma.

Como todos os demais judeus, Olga ficou sendo torturada, humilhada e submetida a trabalho escravo nos campos de concentração nazistas até morrer em 1942.Os historiadores não conseguem situar ao certo como e onde ela morreu, se fuzilada ou vítima da câmara de gás. Só se sabe que a morte dela ocorreu em 1942.

O filme realmente é muito triste, mas com certeza é mais uma excelente obra que vem confirmar o renascimento do cinema brasileiro e uma excelente opção para aqueles que apreciam bons filmes que possam somar aos seus conhecimentos e à sua base cultural.