sábado, maio 21, 2005

QUE A FORÇA ESTEJA COM VOCÊ!


Resumo: aqui o leitor vai encontrar comentários sobre a série Star Wars e um resumo dos seis episódios da saga.





Era para ser uma simples tarde de outono, na última quinta-feira, 19 de maio. Mas foi uma tarde especial para mim.

Na escuridão da sala de cinema, de repente vejo a logomarca "Lucas Film" e ouço com bastante força no dolby estéreo as tradicionais trombetas de John Williams.

Em fração de segundos, o logo da Lucas Film é substituído pelo tradicional logo da série: Star Wars (o certo seria Stars War, não acham?!) - as trombetas ganham mais força ainda.
Os pêlos de meus braços ficam eriçados e um calafrio percorre minha espinha.

Vinte e oito anos depois daquela noite de 1977 quando enchi a paciência dos meus pais para me levarem ao cinema, quando me deparei com uma movimentação incrível na Av. Ipiranga e um logo mock-up especialmente montado em alto-relevo e neon na porta do cine Marabá - incomum, ousado e inovador para a época - anunciava o começo de uma revolução no cinema: uma nova abordagem da ficção científica, a proposta de uma saga, um universo novo de personagens só comparável ao mundo Disney. E, principalmente e acima de tudo, uma revolução no marketing de entretenimento.

A lotação foi tamanha que tivemos de assistir ao filme da galeria superior – naquele tempo as salas de cinema eram gigantescas. As salas dos principais cinemas de São Paulo ofereciam cerca de mil, até mil e duzentos lugares, não raro com duas platéias, uma delas suspensa.

Alguns talvez possam lançar um olhar reprovador, vendo somente como mais um produto de consumo de massa da indústria cultural, e os fãs e expectadores da série, apenas como vítimas do mundo de fantasias consumistas criadas pelo capitalismo.

Porém, com a tradicional (porém questionável) dualidade cósmica platônica levada a seus extremos, entender o jogo de reflexões filosóficas da luta do bem contra o mal, da luta da Ordem dos Cavaleiros Jedi contra o lado sombrio da Força, e o que isso significa dentro da cabeça de um Jedi, e os labirintos aos quais esse caminho leva, é um desafio para aqueles que querem refletir sobre o significado mesmo desta cultura contemporânea, impregnada do capitalismo consumista.

Talvez as novas gerações, ou mesmo as antigas gerações que pouco tiveram contato com a série não entendam a bagunça na ordem dos fatores.

Tudo começou em 1977, com "Guerra nas Estrelas" (título ao qual seria agregado posteriormente: Episódio IV - Uma Nova Esperança"). O fato que explica a saga ter começado a partir do episódio IV e não do episódio I é simples: nenhum investidor do mercado cinematográfico estava acreditando no projeto de George Lucas; assim sendo, para que ocorresse o pontapé inicial, foi escolhido, segundo os critérios próprios dos "business man" do mundo do cinema o roteiro que teria maior probabilidade de emplacar como sucesso. Além disso, também foi mensurado, segundo os recursos da época, o nível previsto do impacto dos efeitos especiais.

Nem é preciso dizer que deu certo.

Para os que não conhecem a série, tudo gira em torno da luta do bem contra o mal. O bem é representado pela Ordem dos Cavaleiros Jedi, uma espécie de versão para ficção científica da iniciática história dos Cavaleiros da Távola Redonda.

Só este fato já enche a história de misticismo, pois os cavaleiros Jedi se Caracterizam por dois símbolos, basicamente: o primeiro é a aptidão do uso de significativos poderes telepáticos, a "Força" como os chamam (algo como o poder da egrégora para os iniciados tradicionais).

O segundo é o uso por exclusividade do chamativo "sabre de luz", a espada de raio laser que a indústria dos brinquedos já tentou por diversas vezes criar uma versão sem sucesso. A técnica de construção do sabre de luz e o seu uso é coisa exclusiva da longa formação e treinamento de um Cavaleiro Jedi.

O mal é representado pela Ordem dos Sith, uma dissidência dos Jedi que, ao contrário daqueles cujo treinamento psicológico visa eliminar paixões e sentimentos degenerativos como o medo, a cobiça, a desconfiança, o ódio e outros, vêem nestes sentimentos e paixões uma forma de expansão da Força e a canalizam não para servir, como é o propósito dos Jedi, mas para dominar.

O episódio IV foi o primeiro grande sucesso daquele que viria a se tornar um dos maiores atores de Hollywood pelos vinte anos seguintes: Harrison Ford, que interpretou um mercenário que por um acaso se viu envolvido com a corrente do bem, e mesmo contra seu gosto ao lado destes teve de lutar por uma questão de sobrevivência... e no final acaba se dando bem - o filme é hollywoodiano, e "se dar bem” num filme hollywoodiano significa: casar com a mocinha para viverem felizes para todo o sempre.

Mark Hamill, que interpretou o principal personagem dos primeiros três filmes da série (que na verdade seriam os três últimos da seqüência prevista inicialmente) - não conseguiu emplacar um sucesso no mesmo nível de Harrison Ford.

Seria impossível descrever aqui cada um dos milhares de personagens de toda a série. Vamos então a um pequeno resumo da saga.

Episódio 1 - A Ameaça Fantasma - fala sobre a infância de Anakin Skywalker, personagem central de toda a história, e como ele teve contato com os Cavaleiros Jedi, que nele perceberam que a Força se manifestava de forma excepcional, enquanto surgiam rumores de dissidências na república e a tentativa de invasão do planeta Naboo.

Episódio 2 - O Ataque dos Clones - fala sobre a iniciação Jedi de Anakin Skywalker. Paralelamente, mostra de forma mais evidente a organização do golpe de Estado tramado pelo senador Palpatine, cuja verdadeira identidade seria revelada no episódio três. Além disso, o filme mostra como Anakin e a senadora Padmé se apaixonam e se casam em segredo, o que era proibido para um Jedi, que por regra é celibatário.

Episódio 3 - A Vingança dos Sith - Anakin, em função dos seus dons excepcionais foi admitido ao Conselho dos Cavaleiros Jedi antes ainda de obter o título de mestre, título que lhe conferiria autonomia no seio da Ordem. Desde a sua infância os Jedi se dividiam nas opiniões sobre Anakin. Yoda, o anãozinho verde, talvez o mais destacado líder Jedi, chamou a atenção no episódio 1 do motivo porque a princípio se opunha ao treinamento daquela criança: o medo era forte nele e seria a porta de entrada para o lado sombrio da Força, como realmente aconteceu quando Anakin, em função de uma perturbação mental deixou-se tomar pelo medo dando condições de ser dominado pelo lado sombrio da Força. Politicamente, um grande jogo de dissidências da República e de confusões e incertezas no Conselho Jedi durante uma guerra separatista que ocorria, tudo orquestrado pelo senador Palpatine que consegue enfim aplicar um golpe de estado e instaurar um Império com poderes absolutos, cooptando Anakin para o lado sombrio da Força, que assume o nome de Lord Darth Vader.


Episódio 4 - Uma Nova Esperança - Luke Skywalker, um dos filhos de Anakin cresce criado pelo tio, sem saber a verdade sobre suas origens. Léia, sua irmã gêmea, que fora criada por um membro da família real banida, é prisioneira do Império. Obi Wan Kenobi reaparece em cena atendendo a um pedido de socorro de Léia, que alertava para o perigo da Estrela da Morte - uma espécie de nave-satélite-quartel do Império que tinha o poder de destruir planetas inteiros reduzindo-os a pó em frações de segundos. Léia se reencontra com Luke unidos pelo acaso, e eles ainda não têm consciência de que são irmãos. Entra em cena o mercenário Hans Solo e seu parceiro, Chewbacca, o gigante peludo da raça Wookie que outrora havia sido amigo de Yoda. Luke é iniciado no treinamento Jedi por Obi-Wan, e demonstrou ter aprendido bem as lições ao conseguir com a utilização da Força uma estupenda vitória para os rebeldes, enfraquecendo o Império. Destaque para os dois andróides, ícones da série, R2D2 (ou Artoo Detoo) e C3PO (ou Trespiô), e para o reencontro de Anakin e Obi-Wan num duelo Jedi.

Episódio 5 - O Império Contra-Ataca - Luke se dirige a um planeta longínqüo para continuar seu treinamento Jedi dirigido por Yoda. Darh Vader desfere um duro ataque contra os rebeldes da resistência como represália à derrota imposta no episódio anterior. Luke se depara com seu pai, Dath Vader, e eles lutam segundo as artes Jedi. Mas Luke ainda era um aprendiz e não teve forças para vencer seu pai, que já planejava cooptá-lo para o lado sombrio da Força. Ausente. Jabba The Hutt, uma criatura repugnante, mistura de sapo gigante e lesma, bandido intergalático que seqüestra e aprisiona Léia e Hans. Darth Vader decepa uma das mãos de seu filho Luke, mas o pouco de bondade que restava em seu coração o impediu de matá-lo; ao invés disso, revelou a Luke a verdade sobre sua paternidade, a qual se recusou a acreditar, conseguindo fugir.

Episódio 6 - O Retorno de Jedi - O Império toma iniciativa de reconstruir uma nova Estrela da Morte, agora mais poderosa. Surgem os Ewoks, criaturas engraçadinhas que lembram a ursinhos, mas que a despeito do sua aparência frágil e cômica revelaram-se aguerridos e eficientes guerreiros que colaboraram com os rebeldes. Pintchiwawa! - o grito de guerra - e de vitória - dos Ewoks, personagens que posteriormente deram origem a uma série de TV. Yoda, já bem idoso e no final dos seus dias, comunica a Luke que em breve ele terá de passar pela sua prova final para tornar-se definitivamente um mestre Jedi: enfrentar Darth Vader, confirmando-lhe que ele era seu pai, vindo a falecer em seguida. Seguem-se duas batalhas finais paralelas: a dos rebeldes contra o Império e a de Luke contra seu pai, terminando com a vitória do lado bom da Força.


Douglas Gregorio::
Outono de 2005.

quarta-feira, abril 20, 2005

O FLORESCER DA ROSA

RESUMO - o texto abaixo coloca a visão sobre as perspectivas do novo papado à luz da trajetória de Ratzinger, do legado de João Paulo II e dos grandes desafios da presença da Igreja na humanidade do século XXI.

"Pontífice romano, aproximar-te não convém
da cidade de dois rios.
Ali há de cuspir teu próprio sangue,
Você e os seus, quando a rosa florescer".
Centúrias de Nostradamus, II, 97. *

Chegamos ao século XXI... e o primeiro Papa do século é o líder máximo da Inquisição.

"Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé" - um nome moderno para o órgão da Igreja que já se chamou Santíssima Inquisição e Santo Ofício.

Um conclave rápido como era previsto: a saúde do Papa João Paulo II não ia bem desde o início dos anos 90, quando então a Igreja começou a se preparar para a sucessão. Toda a estrutura do conclave já estava montada desde a primeira metade da década passada; isso sem contar que desde o ano 2000 a renúncia de João Paulo II era cogitada por motivos de saúde.

Um conclave que se iniciou definido - não seria exagero pensar assim.

Após um pontificado ambígüo, onde ao mesmo tempo que a Igreja modernizou cada vez mais seu marketing usando-se das mais modernas e inovadoras ferramentas, com a figura de um Papa "pop", sempre presente na mídia, girando em torno ao mundo levando a influência da Igreja aos mais longínqüos confins da terra, sem no entanto descuidar da sua vocação conservadora guardiã da "família, da moral, da ordem e dos costumes cristãos" contra os valores "efêmeros" da sociedade de consumo e da cultura temporal. João Paulo II realizou sim um grande pontificado, e sem dúvida figura entre os nomes mais importantes da história contemporânea.

Lamentam-se os poucos avanços secularizadores da Igreja. Pais de família e mulheres não podem receber as ordens eclesiais, ministrar os sacramentos e exercer o ministério da fé. Por que? Será que por alguma questão dogmática?

Ora pois, o celibato clerical não está nas origens da Igreja. Foi imposto pelo papado no século nono, quase mil anos depois da passagem de Jesus pela terra. Por que?

Muito simples: até então, os padres legalmente constituiam famílias com espôsa e filhos. O problema ocorria quando da morte de um padre: filhos e esposas reivindicavam legítimo direito de herança - e conseguiam. O resultado é que os bens da Igreja estavam escorrendo das mãos do clero para filhos e esposas que não eram do clero de uma forma muito rápida. Tornou-se necessário "estancar a sangria" - e assim permanece até hoje.

Lamentável é a ausência do arcebispo de Milão, Cardeal Martini, que chegou a defender abertamente a ordenação de mulheres e o casamento dos padres.

Lamentável também é a ausência de um latino-americano no papado. No mundo globalizado, na era das instituições midiáticas, o quão importante seria para o desenvolvimento dos continentes ao sul do equador o reconhecimento da emergência do poder e cultura destes blocos, hoje chamados de "emergentes" dado o estigma que se formou em torno dos termos "Terceiro Mundo" e "subdesenvolvimento".

Ratzinger nos anos 80 liderou ofensivas veementes desferidas contra movimentos e tendências que se formaram nas Igrejas locais destes países, frutos das reformas do Concílio Vaticano II interpretados e adaptados num mundo pós-guerra, o mundo da "Guerra Fria", bloqueando a participação que a poderosíssima Igreja (vimos uma demonstraçaõ grande deste poder na mídia em torno dos funerais de João Paulo II) nas questões sociais defendendo posturas de cobrança da sociedade na distribuição de renda e promoção humana.

O voto de silêncio imposto ao teólogo e ex-frade franciscano Leonardo Boff (hoje casado com sua ex-secretária) representou para o mundo todo o poder atualísimo da Inquisição, não mais com torturas e fogueiras, mas ainda com forte censura, controle centralizador e o "Index" - lista negra de escritos proibidos - mais ativo que nunca.

Que a teologia da Libertação tinha lá seus equívocos ninguém nega - em especial pela dificuldade que esta tendência teológica tinha em apresentar aos fiéis de todas as classes sociais uma resposta convincente em termos da tão necessária mística exigida em qualquer manifestção religiosa. Em outras palavras, uma espiritualidade pobre, a qual apesar de se confirmar nas teorias teológicas das academias católicas latino-americanas pouco ou nada figurava na prática litúrgica, o que provocou uma migração muito grnade de fiéis para outras religiões, em especial para as seitas pentecostalistas e neopentecostalistas no caso da América Latina.

Por outro lado, nada que o amadurecimento e desenvolvimento desta tendência não pudesse superar, dados os apelos modernizantes e em especial de promoção humana e desenvolvimento que poderia promover nos blocos de países atormentados pela miséria - e podemos até perguntar: não seria isto uma atitude um tanto que evangélica?!

Ratzinger impôs nos seminários nos anos 80 um severo clima de terror; a imprensa brasileira explorou a fartar uma polêmica envolvendo o "pôster de Che Guevara", dado que em função de uma campanha de fiscalização repressora desferida pelo hoje Papa contra as casas religiosas brasileiras, seminaristas receberam a ordem de retirar das vistas dos representantes do Vaticano qualquer objeto de decoração, livros ou qualquer símbolo que pudesse fazer com que alguém pensasse que a Igreja Latinoamericana estaria se tornando uma extensão dos partidos de esquerda.

Enfim, para sermos positivos podemos fazer votos que este papado nos surpreenda. Nos surpreenda ao nos dar uma resposta até então inédita ante os desafios delineados pelo século XXI, o mundo da globalização, o mundo midiático da internet e da televisão, o mundo das novas conjunturas bélicas centradas no oriente médio e o mundo dos governos paralelos sulamericanos exercidos pelo narcotráfico. Um mundo onde a AIDS consome a cada dia que passa uma África sem perspectiva, e vários outros desafios.

Alimentando as esperanças, podemos torcer para que as tendências ideológicas reconhecidas no novo papado não se confirmem, e que tenhamos um papado cadenciado com as necessidades humanísticas exigidas neste início de século.

Apesar dos pesares, peço sua benção Bento XVI, e oro ao Espírito Santo que ilumine seu pontificado. Sem ironia e com toda sinceridade, assim o desejo.

Douglas Gregorio::
Bacharel em Filosofia e ex-seminarista da Arquidiocese de São Paulo.
Outono de 2005.

* João Paulo II visitou a cidade de dois rios, Lion, na França, mas ali nada sofreu, por que? Porque a rosa não tinha florescido ainda... ela foi florescer mais tarde, quando os socialistas - que usam a rosa como símbolo - subiram ao poder na Espanha. Então, o pontífice romano cuspiu seu sangue pelos tiros de Mehmed Ali Agca.

sábado, janeiro 29, 2005

EDS, obrigado.

Agradeço ao pessoal da EDS pelo prestígio prestado em suas constantes visitas a este espaço cultural. Sejam sempre benvindos e estejam à vontade para comentários e sugestões.